Nos dias após Daphna Cardinale dar à luz seu segundo filho, ela experimentou uma rara sensação de calma e encanto. O sentimento foi um alívio após tantas preocupações: ela e o marido, Alexander, tentaram por três anos conceber antes de recorrerem à fertilização in vitro, e Daphna, uma vez grávida, teve contrações frequentes e dolorosas no início da gestação. Mas agora, milagrosamente, aqui estava o bebê deles, o bebê perfeito, May, com cabelos pretos grudados na cabeça. (May é um apelido solicitado pelos pais para proteger sua privacidade).
Alexander, cantor e compositor, queria compartilhar da felicidade de sua esposa, mas estava inquieto com uma preocupação que hesitava em expressar: May não parecia ser membro da família. Certamente, ela não se parecia com ele, um homem de ascendência italiana, cabelos claros e olhos castanhos claros, nem com Daphna, uma ruiva de ascendência judaica asquenazita. Alexander frequentemente recorre ao humor negro para mascarar sua ansiedade, e nos dias após o nascimento, começou a brincar que a clínica de fertilização in vitro havia cometido um erro.
Alexander tentava se convencer de que tudo estava bem, apenas para ser atingido novamente pela suspeita de que May não era sua filha genética. Daphna, acostumada a acalmar as preocupações de Alexander, rapidamente cansou das piadas nervosas sobre a clínica. Olhando para trás, percebeu que sua consciência estava funcionando em dois níveis, que sua mente estava se esforçando para não ver o que era bastante óbvio. Ela frequentemente buscava consolo em uma foto de bebê que sua mãe lhe enviara, na qual ela se parecia muito com May. Mas, ocasionalmente, quando Daphna se olhava no espelho, sentia que algo estava errado — como se algo em seu próprio rosto estivesse estranho.
Com informações: O Globo