“Comecei a ter dores intensas a partir de 2017. Eu usava aparelho nos dentes, mas chegou um momento que eu não quis mais, estava com ele tempo demais e queria me sentir livre. Fiz a remoção no dia 2 de abril, não esqueci mais essa data porque no mês seguinte passei a ficar com o rosto muito sensível. Meu rosto começou a doer muito, e eu achava que aquilo era por conta da forma como tiraram o aparelho.
Fiquei um ano indo à clínica odontológica, perturbando as pessoas por conta dessa dor. Eles fizeram vários exames e nada constataram que pudesse explicar o que eu estava sentindo. Mas continuei voltando lá, até que uma dentista clínica ameaçou chamar a polícia para me retirar. Fiquei um mês sem aparecer, mas quando a dor voltou, fui novamente e eles tinham se mudado. Ou eles não sabiam o que eu tinha, ou sabiam e não queriam me falar.
Quando eu chegava em casa, colocava bolsa de gelo no rosto para refrescar e tomava muito dipirona, mastigava o comprimido. Só fui parar com ele agora. A dor que você sente obriga você a fazer coisas desesperadas. Ela começa na mandíbula e você acha que seu dente está caindo ou até que está com um buraco na boca. Eu escovava o dente até sangrar e não encontrava nada.
Comecei a estudar gastronomia como bolsista na mesma época que começaram os sintomas. Minha alegria era só fazer alimentos, não gostava tanto da parte química, mas sempre sabia responder temas relacionados a vegetais, por ser o que aprendi no interior do Maranhão, em Alcântara. As dores me fizeram evitar comer carne, parecia que a cada mastigada eu sentia um choque dentro da cabeça. Sentia como se aquilo fosse cimento. Consegui me formar porque era um curso de tecnólogo, com menos de três anos de duração.
Eu já tinha insônia crônica, mas quando começaram esses sintomas eu não dormia mais. E, consequentemente, comecei me estressar muito dentro de casa. Se eu achasse um copo sujo na pia, quebrava. Se achasse uma panela, jogava fora. Minhas duas filhas e marido falavam que eu estava surtando, diziam: ‘mãe, para com isso’; ‘você está maluca’.
Com informações: O Globo