Se você tivesse que adivinhar com o que seus antepassados sonhavam, o que seria? Carruagens, igrejas, animais selvagens, tribos isoladas… De acordo com o neurocirurgião e neurocientista Rahul Jandial, nossos sonhos são muito mais parecidos com os deles do que poderíamos imaginar.
O médico compilou décadas de pesquisa no livro “Por que sonhamos” (Editora Sextante) para tentar desvendar um pouco mais desse universo em que entramos todas as noites sem saber o que esperar. Em entrevista ao GLOBO, ele também fala sobre como ficam nossos cérebros nesse processo e o que os pesadelos nos mostram sobre nós mesmos.
Por que sonhamos?
A resposta para o porquê de sonharmos é baseada no que é liberado naquele estado cerebral. Todas as noites, o processo acontece. A eletricidade quando sonhamos é tão robusta quanto aquela quando estamos acordados. A glicose sendo usada é robusta. Não é um momento tranquilo para o cérebro. Ele não descansa, o corpo é que descansa. O cérebro desliga o corpo para que possa liberar o sonho. O porquê de sonharmos tem a ver com o que é único sobre ele. É hiperemocional, hiperimaginativo. Então, acho que sonhamos para manter todos os cantos da nossa mente, todos os neurônios, acessados. Um ensaio ou treinamento de alta intensidade, se preferir, para nossa imaginação, nossas emoções. Acho que isso nos mantém criativos, imaginativos e de mente aberta enquanto acordamos e enfrentamos o mundo como indivíduos e como espécie. Então, minha grande teoria é que sonhamos para manter nossas mentes emocionalmente e imaginativamente otimizadas e disponíveis.
Independentemente do que fazemos, por milhares de anos, todos os 8 bilhões de cérebros no planeta têm que entrar nesse processo todas as noites. Pense no exemplo: se você não girar seu braço e colocá-lo em uma tipoia por um longo tempo, ele se tornará rígido, essa flexibilidade desaparecerá. Da mesma forma, se usarmos apenas as partes do cérebro que precisamos, o resto do cérebro, o emocional, o subconsciente, o imaginativo também perderia parte de sua capacidade. Então acho que sonhar é um treinamento de alta intensidade para nosso cérebro, para que esteja disponível ao máximo e com a máxima criatividade e profundidade emocional enquanto navegamos pela vida. O fato de que precisamos sonhar — e até nos colocamos em risco para isso — mostra que claramente é algo fundamental. Sonhamos para manter nosso cérebro o mais ágil possível, para manter nossa mente o mais flexível possível.
Com informações: O Globo