O editorial do ac24horas deste domingo terá a tendência de ser desagradável. Provavelmente deve ser recebido com antipatia por parte da classe política e também por parte da classe empresarial. Mas, infelizmente, alguém precisa dizer aquilo que é necessário. Lá vai:
Na segunda-feira da semana passada, no Bar do Vaz, o governador Gladson Cameli trouxe um elemento velho da retórica dos governantes, sobretudo os reeleitos: “estou entrando para o ano do executar”. Assim mesmo, leitor! No infinitivo, substantivado, quase com sobrevida, dando um ar de filósofo de canto de rodoviária. “… o ano do executar…”. Mais acaciano impossível. Cabe tudo aí dentro.
Cabe tudo, mas a prudência entra com dificuldade. E por quê? Porque, apesar de não ter sido dito, fica sugerido que “… o executar…” tem relação com obras. Obras! Obras! Obras! E mais obras! E, talvez, esteja neste ponto uma das maiores armadilhas dos gestores do Acre: a ideia de que administrar bem é, obrigatoriamente, investir tempo, energia e recursos em obras. O raciocínio reto induz à sequência obras/empregos/renda/impostos/benefícios. Isso é sempre verdade? A todo momento essa sequência é infalível e soberana?
O governante Cameli que apontou 2025 como um ano “… do executar…” é o mesmo que, há dois dezembros, no mesmo Bar do Vaz, prometeu 11 mil casas populares. E é bom esclarecer que, apesar do nome, no Bar do Vaz, só se serve café ou água. No máximo, um refresco de graviola. Intrigante foi que, os anos que se seguiram contaram com a análise refinada do professor Orlando Sabino, aqui mesmo no site ac24horas, sobre a capacidade de execução do orçamento público por parte do Governo. Os textos do economista desautorizam o mínimo cacoete de esperança.
Quando se fala isso, em nenhum momento, o que se defende é uma gestão engessada, sem nenhum tipo de obra. Isso não existe. O que se chama atenção é que é preciso reavaliar essa lógica de que governante bom é, obrigatoriamente, um governante obreiro. É preciso lembrar, inclusive, que obras concluídas são aparelhos públicos que exigem manutenção e servidores. Têm, portanto, custos.
Não adianta a Seplan ser uma máquina giratória de elaboração de projetos em escala se a capacidade de execução é baixa e as tais “obras” não estão inseridas em um projeto maior que valorize a Cultura e o modo de vida do acreano, sem mimetizar os padrões do Sul Maravilha, como se o modelo de lá fosse o “certo” e nosso daqui o “errado”, teimosamente vivendo com o pé no chão, muito longe dos 40 castelos, das 40 nuvens adiante.
Com informações: AC 24 horas